PESQUISA DO CENTRO

Estudos envolvendo diversos clones de laranjeira Folha Murcha

Os diversos acessos de laranjeira Folha Murcha (FM) presentes no Banco Ativo de Germoplasma do Centro de Citricultura Sylvio Moreira/IAC (BAG Citros IAC) possuem como característica comum a presença das folhas permanentemente enroladas, mesmo nos períodos de chuva ou com o solo úmido. Estes vários acessos possuem origens distintas, mas acredita-se que todos tenham sido originados a partir de um fenômeno comum: mutações espontâneas ocorridas em plantas. Há relatos de mutações que resultaram na obtenção de laranjeiras, limoeiros ou tangerineiras com folhas murchas. Os vários acessos de laranjeira folha murcha geralmente apresentam plantas com porte baixo e frutos com boa qualidade industrial, maturação tardia e boa aderência na planta.
Um estudo realizado no Centro de Citricultura teve como objetivos caracterizar botanicamente sete acessos de laranjeira FM do BAG usando análise multivariada, para verificar o desempenho desses acessos quando submetidos à condição de déficit hídrico, analisar morfológica e fisiologicamente essas plantas a fim de obter informações sobre o enrolamento das folhas e eficiência do uso da água do solo, além de determinar se a característica folha enrolada pode ser transmitida via cruzamentos ou via embrionia nucelar adventícia, em plântulas desenvolvidas a partir de sementes.
Para a caracterização botânica foi observada a formação de dois grupos divergentes de acessos, mostrando os indivíduos FM agrupados no primeiro grupo e o controle, isolado no segundo grupo. O dendrograma permitiu um estudo aprofundado dentro do grupo de acessos FM, no qual os indivíduos FM 491 e FM 490 (Natal Murcha 2 e 1) foram os mais assemelhados e o FM 489 (Valencia Murcha), o mais divergente. Foi verificada que a característica do enrolamento foliar, presente nos mutantes FM, não pôde ser transmitida para plantas juvenis, obtidas via embrionia nucelar ou por meio de cruzamentos. Fato extremamente interessante.
O enrolamento foliar é causado pela existência de um maior número de células menores na face abaxial da epiderme das folhas (inferior), levado por um maior crescimento dessa face em relação à face adaxial (superior), sendo esta arquitetura foliar dependente da presença de luz. Assim, as folhas desenvolvidas em ambiente contendo baixa luminosidade geralmente não apresentam a caraterística de folha enrolada (Figura 1).
As laranjeiras FM apresentaram características morfológicas de interesse para cultivo em condições de déficit hídrico, como maior espessura de cutícula foliar, maior densidade de estômatos e maior índice estomático. O genótipo FM 489 (Valencia Murcha) manteve um bom desenvolvimento do sistema radicular em relação à parte aérea e uma maior eficiência de uso da água, quando cultivado sob restrição hídrica, em comparação com o controle.

Rodrigo Rocha Latado

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